Palavras de Testemunho

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Mensagem da Beth

Palavras de testemunho

Meu irmão, que alegria poder comparecer aqui, junto aos seus pensamentos e poder ditar-lhe minhas idéias em forma de letras. Precisamos conversar um pouco sobre nossas vidas e matar um pouco essa saudade enorme que nos corrói o coração, separado pelas barreiras da vida. Você sempre teve razão em cultivar a vida do espírito, pois a existência aqui é realmente como sempre você falou. E como me ajudaram os poucos conhecimentos que trazia do mundo espiritual! Como me arrependo por não ter aproveitado muito mais do que na Terra se ensina do mundo dos espíritos! Estaria muito mais preparada para enfrentar esta nova vida, embora as coisas aqui, realmente não sejam tão diferentes daí.

Sim, é verdade. A vida não termina com a morte do corpo. Essa é a melhor notícia que todos devem guardar no coração, e estou aqui para reafirmar isso que todos já sabem, mas alguns de vocês não têm muita certeza. Você não imagina como me sinto bem no momento. Recuperei-me já dos sofrimentos daquele desencarne tão difícil. E como sinto ter dado tanto trabalho para tanta gente que amo. Isso me pesa até hoje, ao pensar naqueles dias tão tristes. Eu deveria ter sido mais complacente com minhas dores, pois hoje vejo como me foram salutares.

Hoje sei que tudo aquilo era uma necessidade de meu espírito, que trazia vibrações negativas, pesadas, vindas de outras existências e que somente eu devia dar conta. Ninguém deve se culpar por elas, somente eu mesma. Não trago revolta alguma em minha alma e me encontro muito feliz. Somente tenho uma saudade enorme de todos vocês. Estamos pertos, mas ao mesmo tempo separados por barreiras que não podemos compreender. É algo difícil de se transmitir para vocês, pois ao mesmo tempo em que posso estar perto de cada um, nosso diálogo somente pode ser feito pelas vias do pensamento e isso nos faz sentir distantes.

Ao desencarnar, permaneci-me em repouso por muitas semanas. Apenas dormia, sem me dar conta de nada, sequer de sonhos ou de aflições. Foi um sono de recomposição, me disseram depois. Somente ao despertar, soube que dormira por três semanas ininterruptas. Ao acordar, não me dava conta de nada, ainda sentia os reflexos de meus padecimentos, mas logo, ao saber de onde me achava, eles se sanaram por completo e para sempre. Achava-me em uma espécie de hospital, mas não como aqueles da Terra, frios e tristes. Era mais uma estância em meio a uma bela natureza, parecido com certos hotéis-fazenda que vocês conhecem. Eu estava em um pequeno chalé e lá recebia os cuidados de delicados espíritos femininos que hoje adoro, mas não eram conhecidos. Mas me dedicavam tamanha afeição que me sentia completamente segura e cômoda, e logo fui invadida por um grande sentimento de leveza. Aí estive por muitas semanas. E não demorou muito, podia caminhar por jardins graciosos e reconfortantes e me tratava aspirando perfumes de flores especiais, que me indicavam. E logo pensei, o Gilson não vai nem acreditar nisso! Depois vim a saber que era uma estância de recuperação de desencarnados que passavam por enfermidades dolorosas, como a minha. Somente muitas semanas depois é que pude receber a primeira visita de alguém conhecido. Sabem de quem? Da tia Nica. Mas como ela estava remoçada e linda, nem pude reconhecê-la de imediato. Não imaginam vocês a minha enorme alegria ao perceber a presença de alguém conhecido. Ela me trazia as primeiras notícias de vocês, mas eu apenas chorava, invadida por emoção sem tamanho. Aqui as coisas são assim, as emoções nos percorrem de forma muito mais intensa, temos até que aprender a controlá-las, pois as lágrimas nos brotam com imensa facilidade. Os pensamentos nos vêem com imensa clareza também, é muito interessante. Se imaginamos qualquer cena, é como se ela se desenhasse na nossa frente, como em uma tela de cinema.

No dia da visita da tia Nica, deixei a estância de recuperação em sua companhia, e com ela estou vivendo até hoje. Sua curiosidade me pergunta se estou em Nosso Lar. Não, não estou em Nosso Lar. Ainda não pude visitar colônias mais iluminadas, mas onde vivo é muito bonito, muito florido e confortável. Aqui estou muito feliz. É uma colônia também, e se parece muito com uma dessas nossas cidadezinhas do interior. Aliás, aqui não há essas cidades enormes e mal organizadas como as da Terra. São todas pequenas, muito mais numerosas, mas todas rodeadas de campos maravilhosos. Temos, infelizmente, muros que nos cercam e nos protegem, mas dentro deles, é muito seguro e confortável. Não há qualquer tipo de cercas entre as casas, que são separadas apenas por jardins. Minha diversão atual e favorita tem sido cuidar dos jardins de nossa casa. E olha que temos que aguá-las e podá-las também, incrível, não é? Sim, claro que há aquelas cidades trevosas, dos planos muito inferiores e tristes. Como temia passar por lugares assim! Mas não estive em nenhuma delas, graças a Deus. Felizmente! Não que eu tenha méritos, Gilson, mas devo isso ao amor dos amigos que me amparam aqui. Diziam eles, que eu não devia me preocupar, pois se não fui boa, também não fui uma pessoa de todo má, o que não sei se é verdade. Aqui nos arrependemos de tantas coisas, que fizemos ou deixamos de fazer, de modo que posso lhes dizer que estas lembranças consistem em nosso maior sofrimento. Mas, o fato é que estou muito bem. A existência aqui é muito melhor, nossas necessidades são muito menores, sem as angustiantes preocupações da vida na carne.

Não se precipite com perguntas. Demorei muito a penetrar em seus pensamentos e não foi nada fácil. Tive que me exercitar muito, seguindo instruções de espíritos sábios daqui. Sou iniciante nesta tarefa, e se você ficar me questionando, com pensamentos precipitados, nossa comunicação se rompe e você poderá seguir com sua própria imaginação, tornando irreal a recepção dos meus pensamentos. Vamos acalmar um pouco, ambos, com uma prece breve, pois estão nos pedindo isso. Também devemos conter as nossas lágrimas, elas nos turvam a clareza da mente.

É verdade sim, eu encontrei nossa mãe. E também não a pude reconhecer, a não ser pelos seus olhos. É um dos espíritos mais bonitos que já vi aqui. Na primeira vez que nos encontramos, ela me tomou no colo e me fez lembrar de quando era pequena. Depois soube que ela, na verdade, nunca deixou de estar ao meu lado, eu que não a via. Foi ela quem se responsabilizou aqui pela minha recepção logo depois do desencarne, mas não podia me dar conta de nada. Lembra-se, de que nos meus últimos dias, tinha o estranho desejo de ser colocada no colo? Pois este sentimento era despertado pelos seus cuidados maternais para comigo, e meu espírito se sentia criança diante de seu amoroso coração. A vó Rachel, que tanto lhe interessa, não se encontra aqui. Ela está encarnada. O seu destino lhe exigiu uma volta precipitada à Terra e não convém perturbar o seu roteiro reeencarnatório, com nossa curiosidade, não é mesmo?

Mas não estou aqui para esclarecimentos tão particulares, de interesse apenas familiar. Tenho que aproveitar o momento para torná-lo mais útil para todos. Sabe, aqui as coisas são muito diferentes. Nossos interesses se modificam completamente, diante do infinito e novo panorama da vida. Não gostamos mais de perder tempo com coisas sem sentido. E nos arrependemos muito do tempo enorme que despendemos na Terra, com tantas conversas sem qualquer interesse para o espírito. Não é que queiramos nos tornar santos de um dia para o outro não, mas é assim que nossas consciências nos exigem. Por isso deixamos os interesses particulares e nossa conversa se modifica por completo. Estou aqui para trazer a todos os amigos uma palavra de consolo e atestar a continuação da vida. Por isso lhes digo: olha, a vida não acaba. Ela continua e num esplendor muito maior. Não maldigam as dores da carne, elas são processos importantes de limpeza do espírito. Esta é uma notícia que vocês deveriam encarar com muita seriedade, para evitar muitas decepções e dissabores futuros. Eu me sinto muito melhor do que jamais estive, apesar de ter sofrido uma doença prolongada e considerada terrível por todos, mas ela me foi de imenso valor, pois se hoje trago o meu perispírito suavizado e leve, devo isso a ela, acreditem. Estou aqui, ao lado do Gilson e tomo sua mão, mas sem conduzi-la. Não tenho poder para tanto, mas posso conversar com os seus pensamentos e seus pensamentos me ouvem e ele escreve. Claro que há interferência de sua mente, isso é inevitável, pois ele veste as minhas idéias com suas próprias palavras, que às vezes não são aquelas que eu usaria, mas isso pouco significado tem.

Preciso assim lhes convencer que devem aceitar de bom ânimo a doença da carne. Não façam como eu que me enchi de revolta e sentimentos nocivos de derrota, como se a vida estivesse me rejeitando. A vida é amorosa e não rejeita ninguém. Como me arrependo de ter alimentado estes pensamentos. Hoje eles são obstáculos para o meu mais rápido progresso e felicidade aqui. Como pude revoltar-me tanto diante da morte, se a morte é libertação? Como pude proferir impropérios diante da enfermidade, se a enfermidade é processo de cura de nossa alma? Sim, é verdade, a doença vem da alma. Escreva isso com letras maiúsculas, Gilson. Não é obra do acaso e nem provoca sofrimentos injustos. Por isso não guardem pensamentos de pena de mim. Aquilo tudo foi necessário. A vida é um grande laboratório, que burila o espírito, usando para isso a doença como o expurgador de energias negativas, processo necessário à construção evolutiva. Nossa! Nem eu sabia que podia falar coisas assim! Embora eu estivesse tão perto da verdade, não pude compreender e me desesperei até a loucura, pois não queria morrer. É isso mesmo, fui recebida aqui como uma louca, uma demente, que caíra em desespero pela morte. Tão desequilibrada estava que tive que passar por sono restaurador, tão prolongado. Mas devo dizer que aqueles poucos momentos de lucidez que me permitiram vislumbrar a realidade de minha morte, me foram de extrema valia aqui, pois do contrário, meu sono teria sido muito mais demorado, dizem. E devo agradecer aqueles que, com coragem, me fizeram ver isso enquanto ainda era tempo. Caso contrário poderia não me recuperar e teria que reencarnar precipitadamente, alterando profundamente meus passos na vida. Não iria desfrutar das belezas da vida espiritual, como agora desfruto. Mas eu não queria deixar a vida, deixar meus entes queridos, meu netinho que iria nascer, não queria fazer sofrer o meu querido pai. Hoje estou muito mais perto de seus corações, embora não se apercebam disso, e posso amá-los ainda muito mais. Gostaria de me dirigir a cada um em particular. Como queria falar aos filhos, ao pai querido, mas dizem aqui que eu deveria evitar palavras tão particularmente dirigidas e apenas dar mostras da realidade da vida do espírito. Mas não sei dizer palavras sábias e belas, por isso apenas lhes peço que acreditem que estou aqui, e se em seus corações confiarem nisto, estarei muito feliz, pois a crença de que a morte não nos destrói, é a maior benção da vida. Se apenas um de vocês se convencer disso, já estarei recompensada desse meu pequeno esforço. Mas meu coração me trai e não posso deixar de enviar o meu abraço ao meu pai tão querido, ele que se lembra de mim todos os dias e posso sentir os seus pensamentos de carinho, que tanto me confortam. Um abraço a Sonia e as meninas que tanto amo e tanto fiz sofrer com as dores que eram só minhas e somente comigo deveria ter permanecido. Controlemos nossas emoções, Gilson, não deixemos que as fibras de nossa emotividade nos dominem o pensamento, comprometendo nosso conúbio neste momento. E se puderem, digam ao meu companheiro que não guardo qualquer sentimento negativo por ele. Sim, isso é importante, pois às vezes o vejo sofrendo como se tivesse sido culpado pelas minhas dores. Hoje reconheço meus erros e tudo que desejo é vê-lo feliz. Quero continuar trabalhando pela sua felicidade, se Deus assim me permitir. Agradeço ainda a todos por tudo que fizeram por mim e não posso denominar um por um, pois foram tantos. Mas estão todos em meu coração. Agradeço ainda aos irmãos dessa Casa bendita que tanto me amparou. Continuem nesta tarefa benfazeja que tanto bem traz àqueles que sofrem. Mesmo que somente aqui nos demos conta disso e muitas vezes desperdiçamos esse medicamento precioso para as dores de nossa alma.

Mas a morte, na verdade, não separa nunca aqueles que se amam. E, às vezes, nos encontramos à noite, quando vocês dormem. Eu já tenho esse direito, pois antes o choro me dominava a alma e eu lhes perturbava com minha presença. A mente de quem está encarnado, no entanto, além de não guardar uma lembrança nítida disso, fica muito turvada e nem sempre podemos manter um contato conveniente. Se vocês acreditassem mais nisto, seria muito diferente. Poderíamos nos entender com muito mais confiança e conversar com muito mais clareza. Mas vocês sempre chegam aqui, com suas mentes adormecidas, cheias de preocupações com a vida na matéria, sem entender muito bem o que se passa. Dizem aqui, que isso é falta de amadurecimento espiritual, coisa que eu mesma não posso reclamar de vocês, pois tinha tudo e nada disso soube aproveitar. Mas vocês ainda estão aí, e por que não aproveitam?

Sei que muitos não acreditarão que estas palavras realmente sejam minhas, mas isso não importa. Eu também questionaria se estivesse aí. Mas, se apenas uma possibilidade permanecer em seus corações, já me darei por satisfeita.

Preciso ir. As palavras me fogem e me sinto um pouco cansada. Dizem que as primeiras vezes é assim mesmo. Estou sempre junto aos seus corações. Trabalhem pelo bem de todos. Amem-se com profundo ardor, pois nada na vida é mais precioso do que nossos sentimentos. Somente isso podemos carregar conosco e cujo valor nada pode medir.

Amo vocês.

Jesus esteja sempre conosco,

Beth

A Beth foi uma pessoa extraordinária que tivemos a felicidade de ter por irmã e que se esmerou na vida por demonstrar que a bondade é indispensável atributo do ser humano. O seu falecimento em 1997, quando ainda contava com 52 anos e tanto amor para nos doar, deixou em nossos corações um grande vazio, que não pode ser preenchido pela lembrança de sua imensa bondade e carinho. Contudo, para aqueles que se prenderam à sua elevada estima, temos a grata satisfação de afirmar que ela continua mais viva do que nunca e não se conteve de prosseguir ao nosso lado, ajudando-nos como convém em nossas muitas necessidades.

Essa mensagem foi recebida no Grupo da Fraternidade Espírita Irmão Vítor, situado em Belo Horizonte, em fevereiro de 2000, quando a sentimos nitidamente presente em nosso campo mediúnico.

Gilson Freire

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