Senda Redentora - Pormenores

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Este é mais um livro fruto da mesma psicografia inspirada que me conduziu na composição das obras Ícaro Redimido e Tabernáculo Eterno, levada a efeito no Grupo da Fraternidade Espírita Irmão Vítor, situado em Belo Horizonte. Envolvido por agradável e portentosa atmosfera espiritual, registrei como pude, em reuniões semanais de nossa casa espírita, de fevereiro de 2007 a março de 2009, os informes aqui contidos. Enquanto sentia a destra movida por uma estranha força, alheia à minha própria vontade, uma corrente de pensamentos percorria-me a mente, entretecendo com clareza o roteiro da obra.

Após o término do manuscrito, procedi à sua digitação do dia 4 março de 2009 a 30 de julho de 2010. Convém que o leitor saiba que as anotações psicográficas iniciais são bastante mal redigidas, não têm pontuações ou parágrafos, representando nada mais que um rascunho do trabalho final. Evidentemente não por deficiência do autor espiritual, mas sim pela minha incapacidade em acompanhar a rapidez do fluxo de ideias a percorrer meu frágil psiquismo. Desse modo, a segunda etapa do serviço exige-me recompor frases, reescrever períodos, separar parágrafos e dividir capítulos, seguindo minha particular interpretação dos temas veiculados. Além do mais, cuido de selecionar epígrafes para adornar a obra e colocar, enfim, notas explicativas que são, assim, todas de minha própria autoria. Nessa nova e delicada fase do trabalho, percebo-me, no entanto, mais uma vez, envolvido pela mesma fecunda inspiração que me guiara no roteiro inicial da obra, conferindo-me alegria, forças para a tarefa e a certeza de estar caminhando no rumo mais conveniente possível, segundo minhas parcas possibilidades.

Eis a maneira como este livro foi composto. Embora empreste ao processo uma fonte supra-humana, evidentemente que isso não justifica, em absoluto, conferir-lhe inquestionável exatidão e irreprochável veracidade. O ambiente mediúnico em que foi composto nada mais é que uma intransferível experiência pessoal e, ao perpassar seus informes pela minha plataforma racional e analítica, naturalmente que lhe imprimi o próprio entendimento, eivando-o de erros e equívocos interpretativos, próprios da insuficiência humana que naturalmente ainda me assiste.

Muitos e minuciosos dados que percebi sussurrados aos ouvidos espirituais, confesso, podem não ter sido bem compreendidos pelo meu restrito psiquismo, ainda pouco afeito à acurada ausculta das inusitadas vozes que nos sopram desde o além-túmulo. Peço, portanto, ao amigo leitor que me perdoe se encontrar impropriedades semânticas ou patentes desacertos nos relatos históricos aqui registrados. Procurei ao máximo confrontar e conferir os dados, percebidos em uma bruma de imprecisões, com aqueles existentes em nosso mundo. O acervo de pesquisas a que tive acesso, todavia, é restrito e minha capacidade de análise, exígua, pois não detenho a competência dos historiadores. Por isso, confesso, não logrei encontrar todos os informes de que necessitava, ou muitas vezes, deixei-me simplesmente conduzir pelo que entendia do fluxo inspirativo.

Desse modo devemos encarar esta obra como um romance, produto de um genuíno pulso anagógico, fecundado por sutis correntes de pensamentos, e por isso sujeita a inexatidões, detendo, todavia, em seu conjunto, enorme potencial de realismo, sob o ângulo do espírito imortal. Busquemos lê-la, portanto, não apenas com a razão, mas também com o coração, de modo a permitir-nos uma visão mais abrangente das verdades que se escondem sob seus possíveis equívocos.

A história pregressa de Santos Dumont recebe nesta obra novo acervo de informações, trazendo-nos pormenores de encarnações ainda anteriores às apresentadas na primeira obra, Ícaro Redimido. Sei que as hipóteses aqui levantadas sobre as vidas pregressas de nosso ilustre inventor divergem daquelas suscitadas por gabaritados pesquisadores do espírito, muito comentadas nos bastidores espíritas de nossa nação. Sabemos o quanto é delicada a visão mediúnica, suscetível de contaminar-se com nossas próprias proposições. Por isso não afirmo que detenho a verdade. Digo apenas, com sinceridade, que não me esforcei por imaginar o roteiro aqui proposto e apenas procurei transcrever da forma clara e mais simples possível o que me brotou de maneira espontânea no registro psicográfico. Embora me pareça verdadeiro, por não conseguir determinar-lhe outra fonte senão o mundo espiritual, caberá a cada um julgar por si a realidade destes apontamentos. Consola-me, no entanto, o fato de que extraordinária lógica e incontestável coerência salientam-se do enredo aqui proposto, de modo que não poderia eximir-me de apresentá-lo ao leitor e à análise dos estudiosos, para que dele se sirvam como lhes aprouver. Se dúvidas persistem ou se corro o risco de incorrer em enganos, sustenta-me ainda o fato de que nada mais nos importa senão extrair as lições morais que estas narrativas nos suscitam. Se elas se prestarem para tornar-nos melhores e ajudar-nos a acelerar os passos no indispensável aprimoramento do espírito, terei cumprido o escopo maior deste trabalho.

Entre os aportes à epopeia dos monges-templários e das Cruzadas, demarcando o início de todo o drama em que se envolveram seus personagens principais, esta obra ressalta a história de Heitor, a partir do século XII. Assim, conquanto Ícaro Redimido retrata o drama recente de Santos Dumont, e Tabernáculo Eterno nos traz uma autobiografia de Adamastor, este livro descreve as vidas passadas do cardeal da Cunha, nosso mesmo Heitor de hoje. Completa-se assim toda a trama iniciada no primeiro livro, compondo-se uma perfeita trilogia romanceada. Com seu completo desfecho aqui apresentado, Adamastor despede-se de nós para seguir atividades outras que seu destino o evoca. Acredito que não tornará a escrever-nos, pelo menos por agora.

Heitor, o principal mentor dos trabalhos de Adamastor, divide agora seu papel com outra entidade não mencionada nos romances anteriores, o irmão Francisco, que tem aqui sua interessante biografia revelada. Embora designado por nome não usual entre nós, em respeito a seu desejo, trata-se de entidade muito conhecida e aqueles que já ouviram relatos de suas proezas saberão identificá-lo com precisão. Certamente, destarte, enriquecer-se-ão com os novos informes aqui ofertados, sobretudo o relato de suas encarnações pregressas.

O livro segue nitidamente um duplo roteiro. Segundo o estilo do autor espiritual, uma parte romanceada, tecida em colóquios, embora também recheada de lições, constitui nada mais que um cenário condutor da leitura, desenvolvido em 15 capítulos. Roubando as cenas, por vezes dramáticas, e interrompendo os relatos históricos, derrama-se nesse palco um conteúdo teórico, em forma de palestras efetuadas pelo irmão Francisco no plano espiritual, transcritas e discutidas pelo autor nos 15 capítulos restantes. Verdadeira síntese filosófica da realidade fenomênica, esses capítulos, seguramente outro livro, representam a essência da obra. Lídima introdução à Ciência do Evangelho, referta de conceituações teológicas ou mesmo científicas, para muitos poderá exigir atenção e cuidadoso exame. Mas esperamos que seja compreendida, sobretudo por aqueles que almejam realmente agregar valores à bagagem imperecível do espírito e não apenas deleitar-se no prazer da leitura. Temos, portanto, dois livros em um, justificando-se assim seu expressivo número de páginas.

As palestras do irmão Francisco inscrevem-se em linguagem por vezes repetitiva, como é próprio da retórica, na qual o orador costumeiramente se demora a explicar de maneiras diferentes o mesmo assunto, na intenção de deixá-lo o mais claro possível. Para aqueles que já dominam os temas apresentados, essas exposições poderão parecer tautológicas; para outros, todavia, servirá sobremodo para se fixar devidamente as lições expostas. Como elas se mostram extensas, exigindo grande atenção do leitor, interpusemos-lhes subtítulos, facultando-lhe assim pausar sua leitura.

A profundidade dos temas abordados leva-nos ainda a compreender que esta obra não se direciona àquele que pretenda nada mais que preencher horas vazias, mas, sobretudo ao estudioso disposto a avançar no entendimento da Ciência divina. E entendemos também que ela não se presta ao neófito dos estudos espíritas, porém àqueles que já absorveram as lições básicas da codificação kardequiana.

Seu tema fundamental, como lhe indica o título, é uma análise de nosso roteiro evolutivo. Por isso podemos dizer que aqui temos um estudo romanceado da evolução. A técnica pedagógica utilizada é a do desenvolvimento paulatino de conceitos, os quais, depois de enunciados, são acondicionados em diálogos instrutivos que os repassam, exaltando-se seus principais conteúdos. Ao mesmo tempo em que o enleio romanceado da obra permite-nos momentâneo repouso do psiquismo, exibe o lado prático dos ensinamentos ofertados, propiciando-nos observar como a Lei redentora atua na jornada humana.

Conforma-se, desse modo, uma composição literária sistematizada em espiral, copiando a técnica própria da evolução. Como veremos nestes estudos, a mecânica evolucional leva-nos igualmente a reviver e reexperimentar todos os nossos conhecimentos, até que se fixem como informações automatizadas em nossa bagagem mnemônica.

Esclareçamos, no entanto, que a evolução é aqui estudada sob um ângulo distinto, até então não abordado nos ensaios espíritas, pois tem por base de toda sua mecânica funcional a retirada do espírito do seio do Absoluto. Parte, portanto, do abismo infecundo da matéria bruta, aonde ele se precipitou, e termina nos páramos celestiais, quando encontrará sua libertação definitiva das injunções físicas em que se prendeu. Dessa forma, podemos definir Senda Redentora como uma criteriosa análise monista da evolução, do átomo ao arcanjo, sob os auspícios da perfeição divina, esclarecendo-se de uma melhor maneira muitas das incongruências passíveis de se identificar em nossa laboriosa ascese.

Esperamos que seja compreendida, pois a cada dia mais nos convencemos de que a Unidade divina é a grande e inderrogável Lei a sustentar a multiplicidade fenomênica em que nos movemos.

Que a luz do Cristo não nos falte, a iluminar-nos o entendimento!

Belo Horizonte, inverno de 2010

Gilson Freire

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